Quando
eu era criança fui um desastre ambulante, sabe aquela história do elefante na
loja de cristais? Lembro que quando tinha uns 8 anos quebrei duas janelas
durante as férias escolares, embora na hora parecesse muito ruim hoje quebraria
essas janelas de novo.
A
primeira janela quebrei jogando bola, acho que foi nessa época também que
descobri que não levava muito jeito para a coisa. Eu abusei da força na hora de
fazer o arremate para o gol e pronto lá se foi a bola na janela da casa vazia.
Obviamente
tive que ir buscar a bola, atravessei pelo mato alto com medo de que aparecesse
uma anaconda ou algo do tipo. Sim eu tinha uma mente fértil. Depois de um tempo
encontrei a bola, na voltei tropecei em algo e caí. Quando me virei para ver no
que havia tropeçado me deparei com um cachorrinho encolhido no chão, ele estava
magro e sujo.
Como
toda boa criança faria levei o cachorro para casa e pedi autorização para ficar
com ele. Meu pai foi contra, mas minha mãe usando os poderes de esposa o convenceu
a ficar com o cachorro. Essa foi a história do Baunilha e da primeira janela
que quebrei naquelas férias.
Em
outra ocasião estava atirando pedras para pegar frutas na casa da Dona Neide.
Eu e meus amigos jurávamos que ela não estava em casa. Como a Lei de Murphy é
real eu acabei acertando uma pedra na janela e a Dona Neide estava em casa.
Quando vi sua silhueta na janela corri para minha casa, mas como todos sabem
fofocas correm mais rápido que meninos de 8 anos. Assim quando cheguei em casa
minha mãe já me esperava na porta.
Meus
pais me levaram na casa da Dona Neide para me ensinar aquela história de
responsabilidade. Tive que me desculpar com ela e ainda ouvir que ficaria sem
mesada até cobrir o custo de reparar a janela. Não preciso ter vergonha de dizer
que nessa altura eu já estava chorando.
Dona
Neide com pena de mim disse que não precisava pagar com dinheiro o conserto da
janela. Ela sugeriu que eu ajudasse-a durante uma semana com os afazeres da
casa, cuidar do jardim, ajudar a limpar um quarto que só tinha tralha, esse
tipo de coisa. Meus pais acharam a ideia ótima e fui ajudar aquela senhora.
Dona
Neide devia ter uns 70 anos, era viúva e uma pessoa adorável, amei o tempo que
passei com ela. Foi lá que aprendi a gostar de chá, como cuidar de plantas, não
acumular coisas. Dessa época tirei duas lições importantes. A primeira é que é
muito difícil perder alguém, sempre que aquela senhora contava histórias do seu
falecido eu consegui sentir o misto de dor e saudade que ela expressava, mas
também a alegria ao se recordar das piadas e trapalhadas que o marido fazia. A
segunda lição é que com um pouco de dedicação é possível mudar a vida de
alguém. Ela sempre sorria quando eu tocava a campainha e sempre me agradecia
quando eu passava lá.
Mesmo
depois que a semana acabou continuei visitando a Dona Neide até que tivemos que
nos mudar uns três anos depois. Essa foi a história de como fiz uma amiga e da
segunda janela que quebrei naquelas férias.