sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Janela - Texto do Júnior

Quando eu era criança fui um desastre ambulante, sabe aquela história do elefante na loja de cristais? Lembro que quando tinha uns 8 anos quebrei duas janelas durante as férias escolares, embora na hora parecesse muito ruim hoje quebraria essas janelas de novo.
A primeira janela quebrei jogando bola, acho que foi nessa época também que descobri que não levava muito jeito para a coisa. Eu abusei da força na hora de fazer o arremate para o gol e pronto lá se foi a bola na janela da casa vazia.
Obviamente tive que ir buscar a bola, atravessei pelo mato alto com medo de que aparecesse uma anaconda ou algo do tipo. Sim eu tinha uma mente fértil. Depois de um tempo encontrei a bola, na voltei tropecei em algo e caí. Quando me virei para ver no que havia tropeçado me deparei com um cachorrinho encolhido no chão, ele estava magro e sujo.
Como toda boa criança faria levei o cachorro para casa e pedi autorização para ficar com ele. Meu pai foi contra, mas minha mãe usando os poderes de esposa o convenceu a ficar com o cachorro. Essa foi a história do Baunilha e da primeira janela que quebrei naquelas férias.
Em outra ocasião estava atirando pedras para pegar frutas na casa da Dona Neide. Eu e meus amigos jurávamos que ela não estava em casa. Como a Lei de Murphy é real eu acabei acertando uma pedra na janela e a Dona Neide estava em casa. Quando vi sua silhueta na janela corri para minha casa, mas como todos sabem fofocas correm mais rápido que meninos de 8 anos. Assim quando cheguei em casa minha mãe já me esperava na porta.
Meus pais me levaram na casa da Dona Neide para me ensinar aquela história de responsabilidade. Tive que me desculpar com ela e ainda ouvir que ficaria sem mesada até cobrir o custo de reparar a janela. Não preciso ter vergonha de dizer que nessa altura eu já estava chorando.
Dona Neide com pena de mim disse que não precisava pagar com dinheiro o conserto da janela. Ela sugeriu que eu ajudasse-a durante uma semana com os afazeres da casa, cuidar do jardim, ajudar a limpar um quarto que só tinha tralha, esse tipo de coisa. Meus pais acharam a ideia ótima e fui ajudar aquela senhora.
Dona Neide devia ter uns 70 anos, era viúva e uma pessoa adorável, amei o tempo que passei com ela. Foi lá que aprendi a gostar de chá, como cuidar de plantas, não acumular coisas. Dessa época tirei duas lições importantes. A primeira é que é muito difícil perder alguém, sempre que aquela senhora contava histórias do seu falecido eu consegui sentir o misto de dor e saudade que ela expressava, mas também a alegria ao se recordar das piadas e trapalhadas que o marido fazia. A segunda lição é que com um pouco de dedicação é possível mudar a vida de alguém. Ela sempre sorria quando eu tocava a campainha e sempre me agradecia quando eu passava lá.

Mesmo depois que a semana acabou continuei visitando a Dona Neide até que tivemos que nos mudar uns três anos depois. Essa foi a história de como fiz uma amiga e da segunda janela que quebrei naquelas férias.

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